domingo, 10 de maio de 2009

O LUGAR ESCURO - HELOISA SEIXAS

Alô pessoas...
Esse trecho que agora posto para vocês muito me comoveu e acalentou. A corajosa autora descreve com riqueza de detalhes o que se passa conosco. E como de repente a gente se vê...
Ela se expõe e assim permite que nós consigamos lamentar sem culpa. E perder o medo da extrema solidão.
(pg 78)
"Nos filmes e nos livros é assim. O marido quer usurpar a herança da mulher para casar com outra.Como não tem coragem de matá-la,tenta fazer com que ela pareça estar enlouquecendo.Consegue que ela seja internada e se torna o gestor da fortuna.E a pobre mulher,no meio dos loucos,acaba enlouquecendo também.
Na vida real não é muito diferente.A convivência com a loucura é algo que contamina,entra pelos poros,vai tomando conta de você.Em vários momentos,em maior ou menor grau,isso aconteceu comigo: eu acvhei que estava enlouquecendo também.
Uma dessas vezes foi num dia de Natal.Eu dera folga às acompanhantes.Ficara sozinha com minha mãe.Como ela continuava sem apresentar qualquer dificuldade de locomoção,levei-a para tomar sol e passear no calçadão.Depois,dei almoço para ela.Tudo transcorria sem problemas.Até que começou a escurecer.
Notei que, à medida que a tarde caía,mamãe ia ficando mais inquieta.Num dado momento,sen tou-se numa poltrona que ficava encostada à parede oposta à janela.Sentou-se e cravou as mãos nos braços da poltrona,como um astronauta se preparando para a decolagem.Assim,com as mãos crispadas,fixou os olhos na noite que descia lá fora e começou:
- quero ir embora daqui.
Falava baixinho, a pricípio.Mas depois foi num crescendo.E não parou mais.Em pouco tempo, o pedido se transformou em súplica.
- estou com medo.Por favor,me leva embora daqui!
Olhava-me com olhos injetados,agarrando meu braço para que lhe desse atenção,para que lhe prestasse socorro.Logo,gritava e chorava,como um afogado lutando para não morrer.
- pelo amor de Deus,pelo amor de Deus,estou lhe pedindo! por que você faz isso comigo?Por quê?
Mas às vezes parecia sucumbir à própria tragédia e tornava a chorar baixinho,uma criança perdida:
- eu quero ir embora....pelo amor de Deus...
Eu própria,já me sentindo desamparada,olhava em torno sem saber o que fazer.Mil vezes tentei explicar que estávamos em casa,que não havia perigo algum,que eu não deixaria que nada de mau lhe acontecesse.Mil vezes pedi, implorei que ficasse quieta, que se acalmasse,que acreditasse e confiasse em mim.Não sei quanto tempo se passou naquele embate,mas tenho certeza de que foi muito tempo.Mais do que eu podia suportar.
Até que, de repente, quase sem perceber, me flagrei olhando para a janela também.Para o vidro. O janelão de vidro com esquadria de alumínio, que tomava metade da parede. De lá,meus olhos baixaram para a mesinha de centro, onde havia um pilão de bronze, pesadíssimo. Por algunns segundos, em silêncio,talvez em câmera lenta,desenrolou-se em minha mente o filme: eu, caminhando até a mesinha,pegando com a mão direita o pilão pesadíssimo e atirando-o com toda força no vidro da janela.O estrondo.Os estilhaços.O caos.Um grito, uma gargalhada, um riso ensandecido que partiria o silêncio e destroçaria a tênue fronteira entre lucidez e loucura.
Era o que eu queria fazer.Alguma coisa dentro de mim clamava para que eu o fizesse.Ou talvez eu quisesse algo ainda pior,inconfessável.E,nesse instante,gritei.Gritei talvez para transformar em som - e não em gesto - meu ódio e meu horror.Gritei com todas as forças,e gritei chorando.Peguei o telefone,liguei para meu pai.Em prantos,pedi socorro.E,enquanto falava,pensei em Camus,no homem desesperado que matou a mãe por causa do sol.(pg 80.)"Heloisa Seixas, Editora Objetiva

Pois é, queridos.
Não é ficção, a jornalista relata o real.
Todos nós podemos passar esses momentos desesperadores.Sem exceções.

Introduzindo aqui a minha vivência com essências florais, nas fases em que me percebi "entrando na da tia" fui à farmácia e encomendei o emergencial da flora inglesa, ancorada pelo médico infectologista Edward Bach, na década de 30: o Rescue Remedy.E a ele acrescentei uma essência chamada Pink Yarrow ( Californiana), que tras( tras ou trás,heim?) uma proteção às pessoas muito vulneráveis às emoções alheias.Ela trata a empatia desequilibrada e fusão disfuncional com os outros.
O Rescue por si só garante uma boa possibilidade de centramento em ocasiões de choque.É composto de 5 essências que, combinadas, agem de forma exemplar em choques e traumas.
Usei em creme, me massageando generosa e periodicamente, o que me trouxe de volta o meu eu sem "caronas energéticas".
O que aqui falo sobre florais não significa em absoluto que acredite que florais são o caminho, o único caminho.Não.Há diversos tipos de terapia e técnicas de cura; quem sofre e se perde no sofrimento, deve procurar aquele que é o seu jeito de voltar à harmonia. Bom estar atentos à sincronicidade: sempre alguém ,uma palestra ou um livro nos mostra o caminho do momento.Podemos até nem perceber.Mas os sinais aparecem...
O meu ,tanto para uso como para auxílio do próximo, é a estrada das Essências Florais.

UM BELO POEMA DE CECÍLIA MEIRELES, NESSE DIA EM MUITOS SENTEM UM CERTO VAZIO,POR TEREM SUAS MÃES DEMENCIADAS.

AMÉM

HOJE ACABOU-SE-ME A PALAVRA
E NENHUMA LÁGRIMA VEM.
ÁI, SE A VIDA SE ME ACABARA
TAMBÉM !

A PROFUSÃO DO MUNDO , IMENSA,
TEM TUDO, TUDO - E NADA TEM.
ONDE REPOUSAR A CABEÇA?
NO ALÉM?

FALA-SE COM OS HOMENS, COM OS SANTOS
CONSIGO, COM DEUS... E NINGUÉM
ENTENDE O QUE SE ESTÁ CONTANDO
E A QUEM...

MAS TERRA E SOL, LUAS E ESTRELAS
GIRAM DE TAL MANEIRA BEM
QUE A ALMA DESANIMA DE QUEIXAS,
AMÉM.

VAGA MÚSICA - CECÍLIA MEIRELES