segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O sentimento da dor e o sofrimento humano

Ao abordarmos o problema do sofrimento e da morte, é interessante considerarmos o porque a doença e a dor provocam sofrimentos diferentes em pessoas diferentes. Todos conhecemos pessoas que se abalam e se desestruturam por sofrimentos relativamente pequenos e outros que sofrem grandes catástrofes com aparente paz de espírito e paciência (do latim patere, sofrer).

Viktor Frankl em seu interessante livro "Em busca de Sentido: um psicólogo no campo de concentração", conta-nos a experiência de ter sido preso, por ser judeu num campo de concentração nazista, durante a segunda guerra mundial. Neste local podia perceber que, enquanto alguns prisioneiros se entregavam ao desespero e morriam rapidamente, outros conseguiam superar os muitos sofrimentos e levar a vida adiante com galhardia, auxiliando e liderando seus companheiros. O autor definia que a grande diferença entre uns e outros é que os que superavam as crises eram os que conseguiam ver algum sentido naquele sofrimento e este conhecimento levava-os a se superar e vencer, enquanto os que não conseguiam ver sentido nesta condição deixavam-se vencer pelo desespero e pela morte.

Com este primeiro conceito poderíamos considerar que o que nos leva a sofrer e a temer não é tanto a dor e a limitação física, mas a falta da percepção do sentido destes sofrimentos para a pessoa humana. Efetivamente uma dor que se nos apresenta com um sentido maior e objetivo , perde muito de sua carga de sofrimento. A mãe que está dando à luz certamente sofre e tem dores, mas a perspectiva do nascimento do filho tira o possível desespero que poderia advir de uma dor sem sentido; o mesmo se diga de um tratamento dentário, no qual se sabe que aquela dor transitória nos irá poupar de dores maiores e de riscos de infecção. A mesma pessoa que se revolta perante a descrição de um campo de concentração em que os prisioneiros são obrigados a trabalhar e recebem muito pouca comida, aceita de muito bom grado pagar pelo mesmo tipo de tratamento num Spa.

O mesmo Viktor Frankl em seu livro "Sede de sentido" relata-nos o estudo de 60 universitários da Idaho State University que haviam tentado o suicídio pelo menos 1 vez. Em 85% dos casos (51 estudantes) foi indicada como causa "Life means nothing to me", ou seja "a vida não tem sentido para mim". Destes 51 estudantes, 48 estavam em excelente condição física, viviam em condições econômicas bastante satisfatórias e não tinham conflitos familiares, ou seja 93% daquelas pessoas para as quais a vida nada significava, não tinham do que se queixar.

É-nos fácil perceber, nestas condições que pessoas que tenham uma visão mais apurada de valores transcendentes como valores de ideais humanos ou religiosos, encontram-se naturalmente mais aprelhadas para enfrentar o problema do sofrimento e da morte.

Como já referimos anteriormente, não se trata de considerar a dor ou a doença como algo bom, não se trata de masoquismo, mas de entrever, numa realidade desagradável, desafiadora e inevitável seu potencial de desenvolvimento humano enquanto fator educativo do caráter e da validação das coisas verdadeiramente importantes e transcendentes para cada um de nós.

Retirado do livro: "Finitude - Uma proposta para reflexão e prática em gerontologia" - Autora: Ligia Py

Páginas: 109 - 110

Amor e Luz,

Carol