quinta-feira, 4 de junho de 2009

NÃO POSSO FICAR , EU JURO QUE NÃO...

EU VI O ROSTO DELA, DA DONA MAIENE, QUANDO ABRI MEU ORKUT...
EU VI O ROSTO DE NINA, MINHA AMIGA-IRMÃ, FILHA DA MINHA INESQUECÍVEL DONA MAIENE.

Eu fechei os olhos, chocada com uma emoção que me levou de roldão ao passado.Ao melhor do meu passado: a casa da Dona Maiene.
E eu a vi, eu juro que vi...dançando e cantando uma de suas músicas prediletas, na Zeferino Galvão,no Palácio do Bispo,na Bartolomeu de Gusmão.
Eu nunca me permiti elaborar essa perda horrorosa.
Na época em que vim para o Rio, amparar a tia Biga, a Dona Maiene (Marlene Oliveira,advogada e mãe extremada, amiga querida de minha mãe) também estava adoecendo, da mesmíssima coisa. O que deixou minha mãe arrasada,perdida e assustada.
Eu viajava para Recife nos intervalos de decisões aqui, das idas à médicos,cartórios e advogados e ao chegar lá eu simplesmente me recusava a ver um porto seguro se mostrar como um navio afundando.
Minha família aqui,afundando.Minha família de coração de lá, afundando.
Nos mesmo mares crudelíssimos da senilidade e demência.
Uma das vezes que fui lá, chorei durante o vôo inteiro e fui socorrida pela médida endocrinologista Ana Patrícia, irmã de Nina,a minha querida amiga. Patrícia do vestidinho de veludo, aos 3 anos de idade...daminha de honra do casamento da vizinha Vitorinha.Foi ela quem diagnosticou a depressão que tive.
O Amor verdadeiro não se esvai por nada...
Convivo muito pouco com Patrícia, mas ela mora aqui,do lado esquerdo do peito. Todos eles: Carlinhos, André,Felipe e Beto.
Tive uma infância e adolescência atribuladas pela doença de meu pai.Olho para trás e vejo essa família,que nos amparou e ajudou em todos os sentidos.Quando meu pai passou tempos no Hospital Barão de Lucena, com uma úlcera duodenal,era André quem levava caldo de carne,feitinho por Marlene, para a recuperação dele.
Foi Carlinhos, que frequentava meu local de trabalho, quem me falava de Marlene em detalhes.Do banho, da alimentação,e de uma forma tão bela e santa que me fazia sentir feliz por ter largado tudo em Recife para socorrer a minha tia.
Hoje, só hoje, dia 4 de junho de 2009, eu enfrentei o desaparecimento dela.Que nos recebeu sempre em sua casa,juntamente com o Sr Humberto, como se fôssemos da família.
Creio que nunca souberam o que esse gesto significava para nós.Nunca. Nem de quanto nós os amávamos. E amamos.
Assim, eu acompanhei a doença dela de longe, atraves de minha mãe (quando ela aguentava falar),de Nina e de Carlinhos.Nesse momento estou com um nó na garganta.E sei que não vou poder me estender muito por ser aniversário de meu marido e para tia Ivone não perceber minha tristeza..
Desculpem aí o mal digitado...
Eu quase não vejo o teclado...
Com o olhar marejado...

Quem leu meus posts antigos sabe que o inferno existe e que eu fui lá. E sabe que todos que convivem com demência costumam passear lá, nos piores momentos, de braços dados com os piores fantasmas.
Quando bate a solidão e dúvida se realmente estamos fazendo o melhor.
Eu quero dizer hoje e sempre para Dona Marlene Oliveira,onde quer que esteja, que jamais vou esquecer seu rosto lindíssimo.Mesmo que não tivesse fotos...
Que ainda ressoa em minha mente sua voz adorável.Sua gargalhada contagiante.Seu lado cômico que tirava qualquer pessoa de seus dramas pessoais.
Quero dizer que nunca mais o meu aniversário será o mesmo, como no tempo em que ela era a primeira a chegar com um presente,com suas roupas brancas e azuis.Sem perceber que ELA era o presente.
Eu quero dizer que minhas crenças e filosofia de vida comportam a vida pós morte,outros mundos sutis,onde acredito que esteja "vivendo".
Encantando alguém...vibrando de amor por tantos outros.
Eu falo para você, minha linda, que foi impossível ir lhe ver,de tão destroçado estava meu coração.Eu não lidei somente com a tia Biga não,naquele período.Eu perdi para o câncer a tia mais amada... a tia Gisele,aquela que me protegia da dor que tia Biga causava,com sua loucura desconcertante.Eu acompanhei tudo e não seria suportável ver mais alguém indo.
E torci para minha mãe aguentar a perda de 2 pessoas que ela tanto amava, na mesma época,da mesma coisa.
Ela aguentou.
Mas eu não aguento mais digitar.
Não posso ficar...eu juro que não...

ESPERANÇAS PERDIDAS

QUANTAS BELEZAS DEIXADAS NOS CANTOS DA VIDA
QUE NINGUÉM QUER E NEM MESMO PROCURA ENCONTRAR
E QUANTOS SONHOS SE TORNAM ESPERANÇAS PERDIDAS
QUE ALGUÉM DEIXOU MORRER SEM NEM MESMO TENTAR
MINHA BELEZA ENCONTRO NO SAMBA QUE FAÇO
MINHAS TRISTEZAS SE TORNAM UM ALEGRE CANTAR
É QUE CARREGO O SAMBA BEM DENTRO DO PEITO
SEM A CADÊNCIA DO SAMBA NÃO POSSO FICAR

NÃO POSSO FICAR,EU JURO QUE NÃO
NÃO POSSO FICAR EU TENHO RAZÃO
JÁ FUI BATIZADO NA RODA DE BAMBA
O SAMBA É A CORDA E EU SOU A CAÇAMBA

QUANTAS NOITES DE TRISTEZA ELE ME CONSOLA
TENHO COMO TESTEMUNHA MINHA VIOLA
AI! SE ME FALTAR O SAMBA NÃO SEI O QUE SERÁ
SEM A CADÊNCIA DO SAMBA NÃO POSSO FICAR!

NÃO POSSO FICAR,EU JURO QUE NÃO
NÃO POSSO FICAR EU TENHO RAZÃO
JÁ FUI BATIZADO NA RODA DE BAMBA
O SAMBA É A CORDA E EU SOU A CAÇAMBA

E agora,Dona Maiene? Eu nasci aqui na terra do samba, mas sou ruim da cabeça e doente do pé...
Não fui batizada em roda de bamba não.
Como é que vou dar conta das mãos geladas e a voz embargada?
Deixo um beijo imenso,um amor e gratidão enormes,tão grandes que sei que vão chegar aí,onde você foi morar.
Deixo para o Sr. Humberto,Carlinhos,Maria Helena,André,Felipe,Patrícia e Beto meu carinho. Sincero e eterno.
Paz e Luz
Cris